Pois é meus amigos, Portugal é sem duvida uma grande máquina de produzir Acabados, muitos deles até já perderam a categoria porque Acabado como alguém disse e muito bem não é qualquer um que se pode gabar de estar. Como é possível? Perguntam vocês, como é que um país tão pequeno pode ter esta inclinação para a acabadice? É fácil, se nós formos olhar bem para a nossa história vamos encontrar ao longo dos quase 900 anos que Portugal tem uma lista infindável de grandes Acabados, alguns deles nem tinham essa percepção porque se calhar ainda não havia o termo no sentido mais acabado da palavra, e como é lógico nós somos o que os nossos antepassados nos deixaram e ensinaram. Nesse grandioso e vastíssimo legado está uma personagem que sempre me despertou bastante curiosidade, não só pela maravilhosa maneira de como viveu como Acabado mas também pelo orgulho que ele tinha em se afirmar como tal, bem patente nos seus magníficos poemas, essa personagem é, o grande, Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage, por isso decidi hoje começar uma rubrica dedicada a Bocage aqui no nosso esplendoroso blogue com o objectivo de levar a todos os Acabados um pouco do seu génio e grandiosa sabedoria, como devem calcular ou já ouvido falar a escrita de Bocage é muito carregada em baixo calão não deixando por isso de ser bela e bastante verdadeira podendo até por vezes ser aplicada aos dias que correm, não quero por isso ferir susceptibilidades, afinal de contas o calão mesmo sendo baixo faz parte do vocabulário da nossa língua que ficaria bastante mais pobre se essas palavras não existissem, calão esse que até está a ser cada vez mais utilizado em programas televisivos em horário nobre, Big Brother por exemplo, onde toda a gente utilizava o calão da chamada categoria mais baixa e que famílias inteiras se divertiam à grande e aprendiam principalmente os mais pequenos a pronunciar correctamente o calão. Hoje vou-vos deixar dois poemas que me agradam particularmente pela forma como Bocage fala dele própio. Um grande bem-haja a toda a comunidade acabada.
[SONETO DO EPITÁFIO]
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
Que engrole "sub-venites" em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".
[AUTO-RETRATO]
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hipócritas, e frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.
1 comentário:
Aí está o maior poeta e acabado português de sempre. QQ dia pônho aqui umas rimas à maneira, dele doutros com força na verga e na goela
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